‘Minha Peça Única’: Costanza Pascolato, papisa da moda brasileira

Por Pedro Diniz

A italiana Costanza Pascolato, 75, é uma das maiores autoridades da moda no Brasil. “Papisa da moda” nacional, como os fashionistas costumam defini-la, ela fala de roupas com a propriedade de quem viveu todas as tendências e oscilações do mercado e do estilo brasileiro desde a chegada de sua família ao país, no auge da 2ª Guerra Mundial na Europa.

A empresária Costanza Pascolato em seu apartamento no bairro de Higienópolis, em SP. Crédito: Eduardo Knapp/Folhapress
  A empresária Costanza Pascolato em seu apartamento no bairro de Higienópolis, em São Paulo. Crédito: Eduardo Knapp/Folhapress

Diretora da tecelagem Santaconstancia, fundada em 1948 por sua mãe, Gabriela Pascolato (1917-2010), a empresária, colunista de moda da Folha entre 1989 e 1991, é a primeira entrevistada do “Minha Peça Única”.

A proposta deste espaço é revelar a peça de vestuário mais importante, única, do guarda-roupas de pessoas da moda e de outras áreas da indústria cultural.

Abaixo, leia depoimento de Costanza Pascolato.

“Tenho 150 anos de história da moda no meu armário, mas, para falar a verdade, não tenho nem ideia de quantas peças ainda possuo porque me desfaço facilmente de roupas que não uso há mais de dois anos. Posso te falar de peças importantes, como um vestido dos anos 1950 da estilista [italiana] Nina Ricci que nem sei se tenho mais, mas acho que únicas mesmo são as roupas que minha mãe me deu após meu primeiro casamento [com o banqueiro Roberto Blocker, em 1962].

Já tínhamos dinheiro naquela época e estávamos numa situação bem diferente de quando chegamos no Brasil, com a mão na frente e outra atrás. Ela prometeu me dar um vestido de alta-costura todos os anos. Feitos à mão, eles eram muito mais caros e o processo de manufatura era, de fato, feito no corpo da mulher. Em 1965, na França, fomos ao ateliê do [estilista francês] Yves Saint Laurent e mandamos fazer um vestido chiffon transparente e um cardigã de jersey duplo com forro de cetim de seda. A peça fazia parte das coleções de Saint Laurent desenhadas a partir das inspirações de suas viagens a Marrakech, onde ele tinha casa.

O vestido devo ter doado, mas o cardigã, além de ter sido presente de minha mãe, é quase um milagre da natureza por eu conseguir usá-lo por 50 anos sem problemas. Não tenho nenhuma foto usando-o para mostrar, mas ele tem detalhes bordados em preto sobre preto [uma das inovações de Saint Laurent] e um comprimento ideal para mim, que não sou alta.

Gosto de vesti-lo em festas mais exclusivas porque modela o corpo. É que, embora não tenha barriga grande, conservo alguns complexos antigos com o abdômen. Sou de uma geração que se vestia mais e melhor, com um bom grau de consciência das proporções do corpo. Hoje, as meninas só precisam do aval da atriz, da celebridade, para vestir-se bem dentro dos seus parâmetros.”