Moda de rua no Templo de Salomão

Por Pedro Diniz

A Folha ouviu fiéis que frequentam o Templo de Salomão, espaço de proporções faraônicas da Igreja Universal do Reino de Deus inaugurado há um mês em São Paulo, para saber se há uma cartilha a ser seguida na hora de vestir-se para os encontros.

Na matéria publicada neste domingo (31) na “Ilustrada”, os evangélicos entrevistados pela reportagem – de diferentes perfis e classes sociais – são unânimes em defender que não há regras claras, mas que há orientações para que se evite peças como regatas, bonés e bermudas.

Decotes também estariam vetados de acordo com o conceito de estilo das fiéis e as pernas não podem estar expostas demais. Saias mídi (próximo à altura dos joelhos) e meias escuras são alternativas usadas pelas mulheres para não exibi-las.

A maioria das mulheres retratadas usava roupas condizentes com as orientações de um texto da  repórter Flavia Francellino, publicado no jornal “Folha Universal”. A cartilha indica que é certo adotar poucas estampas, maquiagem leve e roupas que não marquem o corpo, por exemplo, na visita ao Templo.

Só dezoito das 33 pessoas entrevistadas pela reportagem na saída de três cultos aceitaram ser fotografadas. Abaixo, leia depoimentos de alguns desses fieis sobre sua história com a moda e estilo pessoal.

 

Jenifer Almeida, 20. Eu quero sair na foto, vou sair? (risos). Olha, aqui é bom vir bem agasalhado porque faz frio. Sou evangélica desde que nasci, e antes de vir aqui fiquei preocupada porque soube que não podia misturar estampas e mostrar as pernas. Estou usando este casaco para ficar mais discreta e essas meias grossas, para não mostrar as pernas. Não pode [mostrar], né. Pela manhã sou exageradíssima na maquiagem, mas quando venho aqui eu doso um pouco. Você nunca vai ser mal recebido no Templo pela roupa que veste, mas depois, com um tempo, você se adapta [no jeito de vestir-se]. 

 Jenifer Almeida, 20, que posou para foto ao lado do Tempo de Salomao.  Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress
Jenifer Almeida, 20, posa ao lado do Tempo de Salomão, em São Paulo. Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress

Tatiane Cardoso, 34. Costumo me vestir de forma discreta para poder me sentir bem. Faz cinco anos que estou na Igreja. Antes de entrar aqui era meio assim, vulgar no estilo, hoje tenho essa visão sobre o que eu era. Usava shorts curtos para chamar atenção, por exemplo. Ainda uso salto, mas prefiro usar os mais baixos para ficar mais discreta.

A auxiliar de enfermagem Tatiane Cardoso, 34, em foto ao lado do Tempo de Salomão.  Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress
A auxiliar de enfermagem Tatiane Cardoso, 34, em foto ao lado do Tempo de Salomão, em São Paulo. Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress

Maria Helena Soares Caetano, 43. Não tem forma correta de se vestir não, só tem de vir decente. O que é decente? Não vir de bermuda, como os bispos orientam na TV e aqui. Usar boné e regata, também não pode. Agora estou de saia, mas uso calça também. Vai de cada um entender o que é elegante para si.

A diarista Maria Helena Soares Caetano, 43, posa ao lado do Tempo de Salomão.  Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress
A diarista Maria Helena Soares Caetano, 43, posa ao lado do Tempo de Salomão, em São Paulo. Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress

Prof. Wellington, 38. Nada de veste [roupas chiques] para vir aqui. Se você tem roupa simples, venha assim, se tiver um blazer bom, então use. Não tem acepções de roupa. Há doze anos sou da igreja, já fui jogador de futebol e, hoje, vendo perfumes importados e dou aula de atletismo. Pode me chamar de “atleta de Cristo”. Antigamente eu comprava roupas no brechó para usar e, graças a Deus, com meu emprego tenho condição de comprar roupas novas.

O professor de atletismo Wellington, 38, em foto ao lado do Tempo de Salomão, em São Paulo. Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress
O professor de atletismo Wellington, 38, em foto ao lado do Tempo de Salomão, em São Paulo. Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress

Denilson Nascimento Gomes, 29. Quando cheguei  na Igreja eu era punk, usava alargador, cabelo moicano. Entrei bêbado, usava camisa regata e bermuda para mostrar as tatuagens e provocar as pessoas. Foi tentando provocar que fui aceito e isso mudou meu coração. Se você está diante de um juiz [Deus] você tem de se vestir melhor. Jesus disse “vinde a mim como estás”, então entrei na Igreja do jeito que eu era e me tornei outra pessoa.

Larissa Obito, 24 (namorada de Denilson). A vida não mudava pra gente e fomos atrás de uma alternativa. Éramos tristes, não víamos a vida mudar. Hoje somos felizes. Não importa a roupa desde que você esteja decente. Pra falar a verdade, eu que dou dicas de roupas para ele [Denilson].

O pintor Denilson Nascimento Gomes e a cabeleireira Larissa Obito, 24, posam ao lado do Tempo de Salomão, em São Paulo. Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress
O pintor Danilson Nascimento Gomes, 29, e a cabeleireira Larissa Obito, 24, posam ao lado do Tempo de Salomão, em São Paulo. Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress

Cleide Santos, 55. Não sou da Igreja Universal, mas sim do ministério Mãos Que Abençoam, que também é evangélico. Venho aqui como visitante, mas te digo que Jesus quer o coração, não as vestes. Ele vem mudando a visão do povo sobre nós, evangelizando o mundo. O Senhor também tem mudado essa situação de que evangélicos não podem raspar as pernas e cortar os cabelos. As pessoas têm de se arrumar também. Estou de camisa agora, normal. Jesus não roga por isso [moda]. Ele está fazendo as pessoas perceberem que o importante é a integridade e o caráter. Amém?.” 

A dona de casa Cleide Santos, 55, posa ao lado do Tempo de Salomão, em São Paulo.  Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress
A dona de casa Cleide Santos, 55, posa ao lado do Tempo de Salomão, em São Paulo. Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress