A foto de uma estrada do estado da Califórnia (EUA) ganhou contornos de deserto quando as luzes amarelas que simulavam o poente foram direcionadas ao painel fixado nos fundos da galeria de arte no bairro de Chelsea, em Nova York.
O desfile da grife americana de acessórios Coach, na última quinta-feira (4), durante a semana de moda de Nova York, seria mais um oba-oba performático para vender as cores e a silhueta padrão da temporada de verão 2015 se sua imagem não fosse corrosiva.
Os convidados tomavam um suco corado, meio vermelho-sangue, quando as modelos entraram no tablado carregando bolsas de couro e camisetas ilustradas com animais sorridentes, escalpelados e com os olhos vendados, como se estivessem prontos para o abate.
As estampas de onça nos casacos de pele sintética foram derretidas, como se sangrassem a tinta do animal que serviu de base para a manufatura da peça.
Em sua segunda coleção para a Coach, o estilista britânico Stuart Vevers parece querer transformar o soco no estômago em uma imagem divertida, como se tentasse eximir de culpa a compradora que compra peles.
Apesar de não definir suas novas criações para a marca como críticas ao uso de peles e couros em roupas e acessórios –e nem poderia, já que a Coach é conhecida pela qualidade dos seus produtos de couro–, Vevers diz questionar a tensão entre o conceito de luxo e o de utilidade.
Leia trechos da entrevista que o estilista concedeu à Folha:
Folha – Sua coleção tem referências sombrias e felizes ao mesmo tempo. É uma crítica ao uso de peles de animais na moda?
Stuart Vevers – Diria que imprimimos criaturas sombrias e brincalhonas, não críticas. A coleção tem vivacidade, um teor cool, mas revela histórias implícitas nas imagens criadas por Gary [Baseman, ilustrador e animador californiano]. A identidade do trabalho dele está muito presente nesta coleção, que começou a ser criada a partir dos seus desenhos.
E como transportou esse universo sombrio para uma coleção que se apresenta como “viva”?
Criamos uma visão da garota jovem americana, com suas individualidades e seus gostos. A Califórnia [referência da coleção] traz a questão da praia, do sol. Você pode perceber os tons claros, os shorts curtos, as camisetas ‘boyfriend’. Isso é bastante solar e vivo.
Esta é sua segunda coleção para a Coach. Vê alguma diferença desta para a primeira?
Tive mais tempo para pensar, parti do zero em tudo. Na primeira coleção [apresentada no início deste ano] eu tinha o receio sobre o que a pessoas achariam de mim como estilista britânico desenhando para uma grife tão americana quanto a Coach. Naquele tempo trabalhei com o instinto, agora, faço as coisas do meu jeito, com pesquisa.
Qual é o seu maior desafio na grife a partir de agora?
Manter a tradição, a feminilidade da marca, mas sempre adicionando algo que eu considere inovador dentro do meu estilo, da minha forma de criar.