Sem apostas inusitadas, a estatueta de melhor figurino do Oscar deste ano é almejada por um elenco de peso e velho conhecido da categoria.
A italiana Milena Canonero (“O Grande Hotel Budapeste”), os americanos Mark Bridges (“Vício Inerente”) e Colleen Atwood (“Caminhos da Floresta), a polonesa Anna B. Sheppard (“Malévola”) e a inglesa Jacqueline Durran (“Sr. Turner”) já foram indicados ao menos duas vezes. Dos cinco selecionados, apenas Sheppard nunca levou o prêmio para casa.
Contos de fadas e uma certa aura onírica renderam a maioria das indicações deste ano. Atwood, que já ganhou a estatueta por “Alice no País das Maravilhas” (2005), Memórias de uma Gueixa (2005) e Chicago (2002), concorre por um de seus figurinos mais sombrios.
Nenhuma roupa de “Caminhos da Floresta”, longa de Rob Marshall que mistura Chapeuzinho Vermelho, Cinderela e Meryl Streep num mesmo plano, tem cores acesas. Os tons de vermelho, azul e “off-white” são sempre combinados com terrosos e muito preto.
“Malévola”, de Robert Stromberg, segue a mesma linha do guarda-roupa idealizado por Atwood, só que com um grau a mais de fantasia.
As peças criadas por Anna B. Sheppard, indicada ao Oscar por “O Pianista” (2002) e “A Lista de Schindler” (1993), detonaram uma onda de releituras nas passarelas do hemisfério norte e inspiraram linhas de acessórios de designers de sapatos como Christian Louboutin e Charlotte Olympia.
As grifes famosas, assim como no ano passado, continuam a investir em filmes com forte apelo estético. Neste ano, “O Grande Hotel Budapeste” pode ser visto como o novo “O Grande Gatsby” para as marcas.
A Prada é uma das principais e ofereceu trench coats e malas personalizadas, desenhadas pela própria Miuccia Prada. A exclusividade tem motivo. O diretor Wes Anderson mantém uma parceria antiga com a grife italiana, para a qual dirigiu séries de “fashion films” e peças publicitárias.
Os personagens Madame D. e Inspetor Henckel têm boa parte dos casacos assinados pela grife italiana Fendi, que produziu as peças a pedido da figurinista Milena Canonero.
Nascida em Turim, ela é uma das maiores figurinistas de Hollywood e a grande favorita ao prêmio deste ano, que seria o quarto de sua carreira.
Além de ganhar as estatuetas por “Maria Antonieta” (2007), “Carruagens de Fogo” (1981) e “Barry Lyndon” (1975), é dela o figurino inesquecível de “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick (1971).
O chapéu coco, os cílios postiços, a bengala e a jockstrap que compõem o visual do personagem Alex até hoje desfilam por festas a fantasia.
Apesar de ambientados no passado, característica que costuma agradar aos jurados da Academia de Hollywood, “Vício Inerente”, de Paul Thomas Anderson, e “Sr. Turner”, de Mike Leigh, não metem medo na concorrência.
“Vício” é fiel à década de 1970, época em voga nas coleções desfiladas na última temporada internacional. Mas, diz a crítica americana, para esse período a já há um “Trapaça” – longa de David O. Russell ambientado na mesma década e esnobado no Oscar 2014, de onde saiu sem nenhum prêmio.
O figurinista Mark Bridges ganhou a estatueta em 2012 por “O Artista”, de Michel Hazanavicius, e é parceiro de longa data de Anderson. Para o cineasta, Bridges criou o figurino de “Boogie Nights” (1997), que também se passa nos 1970. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Vencedora do Oscar 2013 pelo figurino de “Anna Karenina”, a inglesa Jacqueline Durran volta a competir pelo prêmio com um filme de época. Se ganhar por “Sr. Turner”, protagonizará uma das maiores zebras da cerimônia.
Com peças corretas para um guarda-roupa de época, o figurino do longa sobre o pintor impressionista J. M. W. Turner é construído com base na paleta de cores usada pelo artista em seus quadros.
Apesar de bem planejada, a série de tons pasteis reproduzida nas roupas é tão previsível quanto essa lista de indicados ao prêmio de melhor figurino.