Temporada masculina discute limites de gênero e inconformismo na Europa

Por Pedro Diniz

Embora a temporada internacional de moda masculina outono-inverno 2015/2016 só termine no próximo domingo (25), em Paris, as coleções desfiladas em Londres e Milão já definem as propostas das principais grifes e traçam um esboço do que será visto nos desfiles femininos, em fevereiro.

Se nas últimas temporadas o desejo de salpicar algum açúcar nas roupas invernais serviu de mote para coleções com cores acesas, com destaque para o branco, o azul e o verde lavados, o clima soturno dos países europeus pós-Charlie Hebdo produziram uma paleta com muito preto, cinza e tons de marrom e vermelho.

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Do inconformismo da inglesa Burberry e da italiana Gucci, saíram releituras étnicas e da estética dos anos 1970. Na Gucci, a ambiguidade do vestuário masculino e feminino serviu de referência para o novo designer da marca.

Em seu primeiro desfile no posto máximo da Gucci, Alessandro Michele —que assumiu a grife após a saída repentina de Frida Giannini, no mês passado– desconstruiu o tradicionalismo da antecessora.

Romantismo urbano foi o nome escolhido por ele para a nova coleção da grife, feita em cinco dias, que propõe uma série de silhuetas ajustadas ao corpo e laços amarrados no pescoço em vez de gravatas.

Veja o desfile da Gucci:

Várias grifes passaram a desfilar roupas femininas, vestidas por mulheres, na passarela masculina. O recado da Prada, que produziu uma de suas coleções mais sombrias com um sem fim de casacos preto e chumbo, extrapola a mera relação entre os gêneros.

Miuccia Prada questiona qual a maneira que nos representamos por meio da roupa e, a partir da lógica de silhuetas assimétricas, alfaiataria e dos elementos que o homem tira do guarda-roupa da mulher (e vice-versa), constrói um manifesto contra a misoginia.

Veja o desfile da Prada:

Esse “não-conformismo”, citado pelo estilista Thomas Maier (Bottega Venetta) em sua coleção de perfume militar e cheia de peles de carneiro, cordeiro e bezerro, é uma lógica que perseguirá os estilistas nas próximas temporadas (leia mais sobre a tendência).

Veja o desfile da Bottega Venetta:

O punk apareceu pincelado na coleção de Sarah Burton para a Alexander McQueen, em trenchs e capas monocromáticas, calças na altura da panturrilha e costumes justos em cores soturnas como vinho e preto.

Esse sentimento de inconformismo com o sistema vigente também é compartilhado na coleção de Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli, da Valentino, inspirada nas correntes estéticas que quebraram pensamentos nas artes visuais, como o futurismo e o cubismo.

Veja o desfile da Alexander McQueen:

Padrões geométricos cubistas foram aplicados em maxicasacos e há um contraste de cores que destoa da maioria das coleções desta temporada – amarelo, azul aceso e verde são mesclados sob base de preto, por exemplo.

Nesse caldeirão, o conceito de uniforme foi revisto nas coleções de Thom Browne (Moncler Gamme Bleu) e Italo Zucchelli, da Calvin Klein.

Veja o desfile da Moncler Gamme Bleu:

Enquanto Browne explora a indumentária dos jóqueis, o outro olha para o novo executivo, misturando proporções em calças, blazers e jaquetas. Aqui, o cinza, o preto e o branco formam, de novo, a paleta dominante.

Veja o desfile da Calvin Klein: