“Para mim o amor; para ele a morte.” A frase, estampada num carro manchado de tinta vermelha, acompanhava a foto do estilista Karl Lagerfeld abraçado à sua gata, Choupette, e a imagem de dois minks numa gaiola.
O animal, de pelo macio e um dos mais caros da indústria de peleteria, serviu como principal matéria-prima do primeiro desfile de alta-costura da grife italiana Fendi, que ocorreu na tarde desta quarta-feira (8), em Paris, sob protestos contra o uso de peles na moda.
Veja vídeo do protesto:
Enquanto as modelos desfilavam 36 looks pesados e longos criados por Lagerfeld, que com o desfile comemorou 50 anos à frente da direção criativa da marca, policiais e seguranças tiveram que conter ativistas a favor dos direitos dos animais que gritavam e empunhavam cartazes com o escrito “pare a tortura”.
Uma manifestante, vestida com uma roupa estampada de carne, foi levada à força da calçada do Théâtre des Champs-Élysées, onde rolou a apresentação que integra a semana francesa de alta-costura.
“Os ativistas não têm motivos para estarem com tanta raiva, porque há menos e menos [peles no mercado] e elas estão ficando mais e mais caras”, disse Lagerfeld em entrevista publicada no site WWD antes do desfile. Já era esperado uma reação dos órgãos que atuam na defesa dos bichos.
A ONG americana Peta emitiu um comunicado condenando a apresentação da Fendi e taxando-a de “haute horreur” (alto terror) após Lagerfeld anunciar à imprensa, em fevereiro deste ano, que o desfile poderia ser chamado de um show de “haute forrure” (alta pele). O trocadilho se refere ao termo “haute couture”, alta-costura em francês.
Em entrevista recente à Folha, a empresária Silvia Fendi, dona da marca e parceira de Lagerfeld na criação das roupas da grife, também defendeu o uso de peles na moda. “Respeito quem não usa. Mas, sinceramente, não vejo diferença entre comer carne e usar pele de animal”, disse Fendi.
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O desfile de prêt-à-porter feminino da marca, realizado na última semana de moda de Milão, em março, também exibiu uma ampla oferta de casacos de raposa e mink. As peles de bichos, vale lembrar, foram apostas das principais marcas que desfilaram na temporada internacional de inverno 2016.
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O cerco do Peta a grifes de moda começou dias antes do desfile de alta-costura da Fendi. No início da semana de moda de Berlim, nesta terça-feira (7), manifestantes posaram sem roupa em frente ao Portão de Brademburgo para passar a mensagem que preferem ficar nuas a usar, por exemplo, uma peça de couro, pele ou lã.
Em junho, a organização publicou um vídeo que mostrava fazendas de couro de crocodilo no Zimbábue e no Texas (Estados Unidos) em situação irregular.
Os animais viviam em condições precárias e eram mal tratados pelos donos, que supostamente vendiam as peças de couro bruto para a grife Hermès, símbolo do “handmade” e do estilo clássico da moda francesa.
(ALERTA: IMAGENS FORTES)
Veja o documentário feito por dois membros do Peta infiltrados em fazendas de crocodilos dos EUA e do Zimbábue:
A matéria-prima animal serve para a confecção de bolsas e acessórios da marca. Uma bolsa Kelly, uma das mais emblemáticas do portfolio da etiqueta, pode custar até R$ 40 mil.
Em comunicado, reproduzido na íntegra no site do jornal americano “The New York Times”, a Hermès disse apenas que mantém o controle sobre as fazendas de animais que fornecem o couro usado em seus produtos e que penalizará aquelas que não cumprirem as regras estabelecidas em contrato.