Já falamos no blog que grifes reconhecidas pelo prêt-a-porter estão abrindo os cofres para investir no segmento restrito da alta-costura. Se até um ano atrás as vedetes dos negócios de marcas como Fendi, Chanel e Dior eram as coleções “cruise” (linhas intermédiárias), agora o luxo sob medida é tão importante para a imagem das etiquetas quanto as roupas de meia estação, focadas nas vendas.
Um ponto importante desse movimento é a tentativa das marcas em recuperar a aura de sonho que sempre rondou essas apresentações.
Na última temporada da chamada “haute couture” (alta-costura, em francês), que acabou no dia 9 deste mês, em Paris, houve um céu estrelado na passarela de Zuhair Muhad, um cassino repleto de celebridades na Chanel e um retorno apoteótico das listras de Jean Paul Gaultier.
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Roupas e espetáculo visual, em teoria, caminham juntas na alta-costura. Mas o que ficou evidente nas últimas apresentações foram teses distintas sobre o que cada grife acredita ser um desfile de alta-costura.
Algumas etiquetas acreditam no deslumbre de belos vestidos de noite, caso da Valentino, outras em cenários exuberantes como o da Chanel e o do estilista Frank Sorbier, e uma outra fatia, menor, nas roupas sem nenhuma pretensão comercial. Os holandeses Viktor & Rolf, por exemplo, apresentaram vestidos-pinturas. A única trama que liga essas coleções é o fato de que são feitas, quando confeccionadas, apenas sob encomenda.
Veja alguns desfiles da temporada de alta-costura inverno 2016:
Melhor elenco — Chanel
As atrizes Julianne Moore e Kristen Stewart estão entre as celebridades que jogaram no cassino montado por Karl Lagerfeld, no Grand Palais, para o desfile da grife Chanel. Destaque para o último look, usado por Kendall Jenner: um tailleur para noivas.
Melhor execução — Dior
O cenário onírico montado pelo belga Raf Simons no Museu Rodin foi pano de fundo para a releitura dos códigos da grife. Alfaiataria austera e feminilidade num combo só.
Melhor ideia — Viktor & Rolf
A dupla Viktor & Rolf montou os looks de sua coleção ao vivo. A construção da roupa a partir de uma tela em branco pede aos espectadores que reflitam sobre o trabalho intelectual do estilista que, para eles, pode ser considerado um artista.
Mais polêmico — Fendi
O primeiro desfile de alta-costura da grife italiana aconteceu sob protestos do Peta. A pele foi a matéria-prima base para a coleção controversa do estilista Karl Lagerfeld.
Melhor tapete vermelho — Zuhair Murad
Mestre do tapete vermelho, o libanês aplica pedras e paetês como poucos. Seu principal concorrente é o também libanês Elie Saab, que desfilou na mesma temporada de alta-costura. Dessa vez deu Murad, pelo trabalho preciso de misturar o look de festa de gala ao da festinha na boate.
Melhor show — Jean Paul Gaultier
Repare o trabalho de veludo, as listras, as plumas e os itens de cabeça. O francês Jean Paul Gaultier pode não ser bom em vender roupa, mas ainda sabe vender boas imagens para alimentar sonhos.
Faz falta — Thierry Mugler
Tem couro, pose, a atriz brasileira Betty Lago, a espanhola Rossy de Palma (a diva estranha de Almodóvar), Jerry Hall e Naomi Campbell no auge da carreira. Beleza, espetáculo, esquisitices, glamour. Veja a overdose de alta-costura que o estilista Thierry Mugler promoveu no final dos anos 1990.
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Agora compare a apresentação dos anos 1990 a esta, assinada pelo estilista David Koma, na última temporada de alta-costura. Mugler sem Thierry Mugler .