A grife francesa Christian Dior anunciou na tarde desta quinta-feira (22) que o estilista Raf Simons não é mais o seu diretor criativo. Após estrear na marca em 2012, com uma aclamada coleção de alta-costura que foi tema do documentário “Dior e Eu” (2014), Simons deixa o cargo a contragosto do dono do grupo LVMH, Bernard Arnault.
Homem mais poderoso da moda mundial, Arnault teria tentado convencer o estilista nos bastidores das últimas duas coleções da marca desfiladas em Paris, segundo informou a editora Cathy Horyn, do site The Cut. Segundo a jornalista, o CEO da Dior, Sidney Toledano, também tentou convencer o estilista a ficar na marca.
Apesar dos pedidos, o designer belga decidiu “se concentrar em outros interesses”, como a sua marca própria de moda masculina. Em comunicado enviado à imprensa, agradeceu o “imenso privilégio de ter tido a oportunidade de escrever páginas desse livro magnífico [a história da Dior]”.
A notícia da despedida de Simons já corria nos bastidores da última semana de moda de Paris, no início deste mês. Entre informações desencontradas e boataria, ninguém acreditava que isso poderia acontecer, afinal, o estilista, além de ser um dos mais inventivos da indústria, vendia bem.
Toledano disse em entrevista recente que o faturamento da Dior aumentou 1,18% no último ano, fechando a conta com R$ 7,74 bilhões de faturamento. Dinheiro, ao que parece, não foi o motivo.
Alguns jornalistas comentam que a pressão de executar cerca de oito coleções anuais, entre as de prêt-à-porter, alta-costura e intermediárias, teria pesado na escolha de Simons em deixar um dos postos mais cobiçados da moda.
Herdeiro do minimalismo belga, o estilista desfila reflexões e construções complexas de olho no futuro, o que no sistema ágil e fugaz das grandes maisons de moda, não corresponderia ao seu estilo de criação.
A Dior, de alguma maneira, não cabia muito bem nas aspirações nem na estética do designer. E isso já era levantado desde o anúncio de sua entrada como substituto de John Galliano, demitido da marca após o vazamento de declarações antissemitas.
O fato é que a grife fica, mais uma vez, sem comando criativo e terá que mexer no castelo de cartas da LVMH para achar um nome à altura. O mais cotado nas rodas fashionistas é Riccardo Tisci, estilista da Givenchy .
Italiano, ele completou neste ano 10 anos à frente do cargo máximo da divisão de estilo da Givenchy e seria uma aposta um pouco menos arriscada que Phoebe Philo, estilista da Céline e outra aposta ventilada nesta tarde.
A execução de moda de Tisci se aproxima mais dos tempos de fantasia e roupas exuberantes de John Galliano, fator que colaboraria para uma aproximação maior da marca com o público jovem, especialidade do estilista da Givenchy.
Por outro lado, Philo retomaria o frescor minimalista com viés artístico iniciado por Simons em 2012. No entanto, a estilista teria de lidar com as comparações inevitáveis com a moda do seu antecessor.
Leia comunicado de Raf Simons:
“Após uma longa e cuidadosa reflexão, decidi deixar minha posição como diretor criativo
de coleções femininas. É uma decisão baseada inteiramente em meu desejo de focar em outros interesses da minha vida, inclusive minha própria marca, e as paixões que me movem além do trabalho. Christian Dior é uma empresa extraordinária e foi um privilégio imenso ter tido a oportunidade de escrever algumas páginas deste livro magnífico. Gostaria de agradecer ao senhor Bernard Arnault pela confiança que depositou em mim, dando-me a incrível oportunidade de trabalhar nesta bela casa rodeado pelo mais fantástico time com o qual alguém poderia sonhar.
Também tive a sorte de, nos últimos anos, desfrutar da liderança de Sidney Toledano. Sua direção, sempre atenciosa, sincera e inspiradora, ficará como uma das experiências mais importantes de minha vida profissional.”