Se você usa minissaia, jaquetinha de vinil, roupas metálicas e um óculos tipo astronauta, deve muito do seu estilo ao estilista André Courrèges, 92, que morreu nesta quinta-feira (7), em sua casa nos arredores de Paris, após 30 anos de luta contra o mal de Parkinson.
Enquanto a moda olhava para baixo, com as saias quatro dedos abaixo dos joelhos herdadas do “new look” de Christian Dior, o francês nascido em Pau (sudoeste da França) olhava para as estrelas e antevia a corrida espacial iniciada em 1961, quando o soviético Iuri Gagarin tornou-se o primeiro homem a viajar ao espaço.
Courrèges era um dos últimos grandes costureiros vivos do século 20 – ao lado de Hubert de Givenchy, 88, e Pierre Cardin, 93 – e o pai da moda espacial. A estética, fundada por ele em 1964 com a coleção Era Espacial, consistia numa moda futurista, com muito branco, minissaias em “A”, botas pesadas e o vinil como matéria-prima principal.
A minissaia, aliás, foi ele quem popularizou na Europa, apesar de ter sido a inglesa Mary Quant, 81, quem abriu espaço para as coxas das mulheres um ano antes do estilista.
Assim como Givenchy, ele aprimorou o talento para a costura na “maison” do espanhol Cristóbal Balenciaga (1895-1972. Do final dos anos 1940 até 1961, quando lançou sua grife homônima, conheceu e casou com sua mulher e parceira comercial, Coquéline Courrèges.
Foi com ela que fundou, após retirar-se da moda em 1994, a Courrèges Énergie, empresa especializada em criar carros não-poluentes que geriu até o fim de sua vida e com a qual dividiu seu tempo com as paixões pela pintura e pela escultura.
Arquitetar o futuro, seja pela moda ou pela tecnologia, foi o maior feito do estilista. É irônico, então, que André Courrèges morra quando estilistas como o francês Nicolas Ghesquière (da grife Louis Vuitton) e o belga Raf Simons (ex-Christian Dior) acabam de apresentar, na semana de moda de Paris, em outubro, coleções que tentam definir a moda do futuro.
Na mesma temporada de verão 2016 parisiense também ocorreu o primeiro desfile da nova fase da Courrèges, sem o “André” e já sob a batuta comercial dos empresários Frédéric Torloting e Jacques Bungert, que adquiriram a marca em 2011 após anos de ostracismo.
O que se viu na passarela dos estilistas Sébastien Meyer e Arnault Vaillanto foi a confirmação do quão importante e irretocável é o legado do estilista. Apenas 15 modelos de minissaias, jaquetas de vinil e botas curtas foram criados, ou melhor, recriados, pelos novos diretores criativos da marca.
Sem poder ser copiado, Courrèges segue definido a moda e o contexto do seu tempo.