Mulheres ‘plus size’ estão insatisfeitas com marcas e próprio guarda-roupa, diz estudo

Por Pedro Diniz

Ainda são nebulosos para as marcas de moda os gostos e as aspirações das consumidoras chamadas de ‘plus size’ pelo mercado. O desarranjo entre corpo e vestimenta é tanto que beira a esquizofrenia, com tamanhos GG impressos na etiqueta vestindo uma mulher que usaria, na vida real, uma numeração M.

Foi para entender essas mulheres que vestem acima do tamanho 46 que o e-commerce Flaminga combinou informações de 1.044 clientes das 6.000 cadastradas em sua plataforma. Um dos maiores portais de venda ‘plus size’ do país, o site concluiu que 61% delas estão insatisfeitas com as roupas do armário e 52% definem a experiência de compra com a palavra “dificuldade”.

Modelos em desfile da edição de verão 2015 da Fashion Weekend Plus Size, evento de desfiles realizado anualmente em São Paulo e voltado para o mercado de tamanhos grandes. Crédito:  23-ago-2014. Rahel Patrasso/Xinhua
Modelos em desfile da edição de verão 2015 da Fashion Weekend Plus Size, evento de desfiles realizado anualmente em São Paulo e voltado para o mercado de tamanhos grandes. Crédito: 23-ago-2014. Rahel Patrasso/Xinhua

“Poderia ser um prazer [comprar roupas], mas é difícil encontrar peças que fiquem bem em mim”, “as roupas plus são feias e de caimento ruim” e “parece que [as marcas] fazem roupas para enfeitar botijões de gás” estão entre os desabafos dessa fatia do mercado que, segundo a Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), gasta cerca de R$ 5 bilhões por ano.

“Desprazer”, “frustrações” e “preconceito” estão entre os termos negativos que 12% da amostra, mulheres entre 31 e 50 anos, pensam na hora de comprar. Cerca de 20% delas têm “vergonha” de comprar.

A internet, de acordo com a pesquisa, é local de compra de 70% das mulheres fora do padrão de beleza vigente e, entre essas, mais da metade compra mais de seis vezes ao ano. No entanto, 80% das consumidoras acham que há poucas opções nos shoppings virtuais e, para piorar, 45% afirmam não saber escolher e combinar roupas.

Mais do que esclarecer sobre os hábitos de consumo das “plus size”, o estudo serve de alerta às grifes e marcas de moda para a falta de credibilidade das mulheres com o mercado de vestuário, principalmente com os das grifes mais famosas do Brasil.

Quase 60% do universo da pesquisa afirmam comprar no e-commerce Posthaus (22,34%) e nas varejistas Renner (21,72%) e Marisa (16,25). Apenas 12% vão a lojas físicas. A Flaminga, e-commerce que viu a sua base de clientes crescer 433% nos últimos três anos, é citada por 11,09% das mulheres entrevistadas via-email.

Para movimentar as vendas, o portal de vendas virtual das sócias Sylvia Sendacz e Cynthia Horowicz lançou recentemente uma linha de lingerie assinada pela modelo plus size Fluvia Lacerda, chamada de “Gisele” das modelos plus size.

A modelo Fluvia Lacerda em campanha da sua linha de moda íntima para o e-commerce Flaminga. Crédito: Estúdio X+X | Roberta Dabdab + Mabel Feres
A ‘Gisele’ das modelos plus size Fluvia Lacerda posa para campanha da sua linha de moda íntima criada para o e-commerce Flaminga. Crédito: Estúdio X+X | Roberta Dabdab + Mabel Feres

O tipo de informação que essas consumidoras procuram também é distante do mercado de alto padrão. As revistas mais lidas por essas mulheres são ou de celebridades, como a Caras (ed. Caras), ou direcionadas ao consumo popular, a exemplo da Manequim (ed. Abril).

PERFIL

O estudo do e-commerce Flaminga também revela o tipo de relação que as mulheres com curvas mais acentuadas têm com o próprio corpo. Primeiramente, a expressão ‘plus size’ é bem aceita por 81% da amostra, e o termo “roupas tamanhos grandes”, por 12%.

Algumas mulheres pesquisadas expressaram revolta por serem incluídas numa categoria “diferenciada”. “Não precisa especificar a numeração com o tamanho, ainda acho que o mercado da moda precisa ter roupas de todos os tamanhos sem classificar grupos por numeração”, disse uma das participantes da pesquisa.

A roupa é vista por essas mulheres como grande aliada do seu bem estar e no disfarce de partes como o abdômen — também chamado por elas de “barriga, barriguinha e pança” –, culote, glúteos, pernas e costas.