Coloque todas as celebridades que passam pelos tapetes vermelhos das premiações do cinema ao lado daquelas que fazem pose no Grammy. A constatação é óbvia. Divas da música se vestem melhor que as das telas. Ou, pelo menos, têm mais manejo e graça ao segurarem no corpo um vestido de grife.
Por mais desenvoltas que as atrizes sejam na frente das câmeras, o ofício de dar a cara a tapa e, muitas vezes, construir personagens por meio de suas roupas, faz das cantoras modelos mais interessantes para as grifes trabalharem suas ideias.
Quem no Oscar poderia usar, por exemplo, o vestido azul do estilista Marc Jacobs que Lady Gaga vestiu na segunda (15) para os flashes do Grammy?
A mistura de pop art, anos 1980 e divas do cinema antigo proposta no verão 2016 de Jacobs não caberia no script exageradamente correto do tapete vermelho mais fotografado do mundo.
É claro que as atrizes de Hollywood sentem o peso de ser, ou parecer, uma diva tradicional numa festa tradicional. (Leia mais sobre o assunto numa análise recente que fiz para a “Ilustrada”)
Mas o que as artistas da música ensinaram nesse último Grammy é que, sim, é possível aliar glamour e algum senso de inovação para não cair na vala do “look correto”, aquele que todo mundo olha, acha bonito, mas apaga da cabeça antes do próximo clique. Algo banal para quem apenas acompanha, mas a morte para qualquer marca que se propõe a vestir alguém.
São as celebridades as maiores responsáveis por dar crédito às grifes de luxo, um crivo que nenhum crítico ou publicação de moda tem o poder de dar. Não foi à toa que a Gucci escolheu a cantora Florence Welch, representação do vintage moderninho, para ser uma de suas modelos exclusivas.
A mesma marca italiana também não é mera figurante no clipe mais comentado do momento, “Formation”, de Beyoncé, o que mostra interesse da etiqueta em investir a maior parte da verba de marketing em ações direcionadas à indústria fonográfica.
Do ponto de vista das tendências, o Grammy se mostrou muito mais atento ao que acontece no mundo. A cantora pop Demi Lovato fundiu alfaiataria e sensualidade no look preto de Norisol Ferrari, composto por blazer decotado e saia com fenda. A noção de mistura de gêneros é um dos principais temas da passarela.
Também merece atenção a nudez comedida das mulheres. Na premiação mais importante da música, Taylor Swift, grande estrela da noite, preferiu um conjunto berrante de “top cropped” e saia da Atelier Versace em vez do vestido de gala.
E mesmo quando optam pelo longo, jogam fora a seda básica. O tomara-que-caia da cantora country Kacey Musgraves, assinado pela Armani Privé, era todo texturizado em tons de azul e roxo.
O longo Stella McCartney de Ellie Goulding, uma das mais chiques da cerimônia, tinha uma espécie de placa de metal nas costas nuas que não deixou a cantora com jeito de Barbie. Selena Gomez, de Calvin Klein, fugiu da caricatura com um longo cortado nas laterais.
É certo que existem aberrações. A princesa da Disney conjurada por Megan Nicole e o moletom rosa cravejado de cristais de Dencia são um soco no olho. Porém, no fim das contas, parece ser mais sincero pisar na bola com vontade de acertar do que perder por W.O.