Nesta terça-feira (1) começaram os desfiles de outono-inverno 2016/2017 de Paris, mas para entender as coleções da cidade “mais importante” da indústria é preciso olhar a temporada que antecede a da capital francesa: a semana de moda de Milão.
Considerada pela crítica internacional uma fresta de luz num mercado mergulhado em incertezas como é o da moda europeia – que ainda sofre os efeitos da crise financeira e especula o impacto da onda migratória –, a semana italiana terminou na segunda (29) redefinindo o estereótipo de moda vibrante e sensual pelo qual suas marcas ficaram conhecidas.
Há elementos da corrente vintage capitaneada há um ano pelo estilista da Gucci, Alessandro Michele, um visual “esportivo chic” traduzido em elementos da roupa de performance e reflexos de maximalismo aplicados em roupas que, a rigor, são minimalistas.
Repensar os próprios códigos de vestimenta não significa olhar para o próprio umbigo. Pelo contrário. Versace, Gucci, Diesel Black Gold, Prada e Dolce & Gabbana, para citar uma pequena parte do panteão do “made in italy”, estão conectadas ao que há de mais digerível em se tratando de tendências.
Se é pra colocar alfaiataria, como fez a Versace e tantas outras, que seja com uma mini top por debaixo da jaqueta esportiva. Se a ideia é flertar com o militarismo, que ele seja estampado, quase kitsch, como fez a Prada numa de suas coleções mais bem planejadas do ponto de vista estético.
Enquanto Paris abre espaço para designers autorais neste primeiro dia de temporada, confira os melhores desfiles que marcaram a edição mais fresca de inverno que a Itália produziu nas últimas temporadas.
1º – Prada
Correntes em voga na moda como a androginia, os temas marítimos e o militarismo poderiam definir a coleção de Miuccia Prada, porém há muito mais a ser visto. Prada retoma sua cruzada em busca do visual apocalíptico e fatalista iniciado com a passarela de verão 2016 da Miu Miu, em outubro de 2015, e destrincha a crise migratória na Europa que resultou na morte de milhares de refugiados. Bolsas coladas ao pescoço, pequenos relicários entrelaçados no tronco e um chapéu de marinheiro entregam o tema proposto pela estilista. São a fuga forçada e o sentimento de não ter para onde ir os guias dessa coleção, embalada por ‘playlist’ de PJ Harvey e Karen Elson. “Escalei montanhas, viajei pelo mar, expulsa do paraíso, humilhei de joelhos, dormi com o diabo, maldito deus do céu, abandonada pelo paraíso”, diz um trecho de “To Bring You My Love”. A silhueta dos anos 1940 e 1950, período pós-guerra caracterizado pela escassez de recursos na indústria têxtil, não poderia deixar de ser o emblema da tese de Prada.
Veja vídeo do outono-inverno 2016/2017 da Prada:
2º – Gucci
Mais moderninho que Prada, Alessandro Michele é o novo xodó da moda italiana e de toda a imprensa especializada. Sua fórmula é simples: um visual ‘geek’, quase nerd, com pinceladas dos anos 1970 e o colorido mais vibrante e desconexo possível. Suas silhuetas são comportadas, mas há um clima de mistério na alfaiataria estampada, nos laços no pescoço, no brilho das saias reluzentes. De tão bem executada, a ideia se transformou no último grito da moda mundial e, para a felicidade da Gucci, trouxe de volta o poder de fogo da marca italiana. É da grife a maioria dos looks do videoclipe de “Formation”, último single de Beyoncé. Nesta coleção, Michele reafirma seu estilo premeditadamente confuso, com referências aos anos 1980 e ao renascentismo italiano.
Veja vídeo do outono-inverno 2016/2017 da Gucci:
3º – Versace
Donatella Versace creditou às mulheres reais a fonte de inspiração desta temporada. A coleção da grife “mais sexy” da temporada milanesa tem muito da influência do estilista belga Anthony Vaccarello, contratado por Donatella para gerir o estilo da marca Versus Versace, mais acessível que a etiqueta-mãe. A assimetria das fendas diagonais das saias e o apreço pelo rigor da alfaiataria belga contaminou a passarela da Versace, só que com elementos da indumentário esportiva. Há matelassados, blusas tranparentes adornadas com lantejoulas, jaquetas “perfecto” e peças de couro, material fetichista que também serviu de base para o desfile da Moschino.
Veja vídeo do outono-inverno 2016/2017 da Versace:
4º – Diesel Black Gold
A marca premium da etiqueta de jeans volta à passarela milanesa após deixar a semana de moda de Nova York. Não há elucubrações sobre o contexto social da Europa na moda fácil proposta pelo estilista Andreas Melbostad. E isso não é ruim. O trabalho de misturar matérias-primas como couro, jeans e nylon é um ponto interessante porque, numa época de exageros rebuscados, cai bem um pouco de funcionalidade à roupa. Jaquetas do tipo biker, jeans com rendas e recortes gráficos compõem a coleção utilitária do estilista. O clima de festa é bem a cara desse novo momento da moda italiana, e a Diesel, principal nome do “jeanswear” italiano, soube tirar proveito dele.
Veja vídeo do outono-inverno 2016/2017 da Diesel Black Gold:
5º – Dolce & Gabbana
Exemplo de grife que reinventa a própria identidade a cada temporada, a Dolce & Gabbana criou princesas nesta temporada de moda em Milão. Nada de looks bufantes e metros de tule, as novas cinderelas, brancas de neve e belas adormecidas usam vestidos mídi justos ao corpo, bolsas com o dizer “Quem é a mais bela? Eu” e estampas de castelos, candelabros e rosas bordadas na roupa. A onda “fun” (termo da moda para roupas bem humoradas) esculpiu a mistura de romantismo e sensualidade proposta pela marca. O estilo siciliano, base da moda criada por Domenico Dolce & Stefano Gabbana, saltava aos olhos, mas foi emoldurada com uma aura sarcástica e um viés quase urbano que fazia falta na passarela dos estilistas.
Veja vídeo do outono-inverno 2016/2017 da Dolce & Gabbana: