Fundador da Osklen critica polarização geográfica da moda nacional

Por Pedro Diniz

Começa nesta terça-feira (14) o evento que pretende ser a nova plataforma de lançamentos da indústria do vestuário carioca. Realizado pela Dream Factory, produtora do Rock in Rio, e pela L21 Participações, o Rio Moda Rio apresentará 14 coleções de nomes importantes da costura nacional.

Um deles é a Osklen, grife brasileira de maior repercussão no exterior e símbolo de um certo despojamento vinculado ao estilo carioca. A marca fará uma grande apresentação no Museu do Amanhã, na sexta-feira (17), último dia do evento.

Fachada do evento Rio Moda Rio, que acontece até sexta-feira (17), no Pier Mauá e em outros cartões postais do Rio. Crédito: Divulgação
Fachada do Rio Moda Rio, que acontece até sexta-feira (17) no Pier Mauá e em outros cartões-postais do Rio. Crédito: Divulgação

O fundador da marca, o empresário Oskar Metsavaht, 54, foi um dos entusiastas da criação de um novo formato de semana de moda carioca desde o fim do Fashion Rio, em 2014.

Ele e estilistas como Lenny Niemeyer e Alessa, que também participam dessa nova plataforma de desfiles, fizeram parte de um conselho de moda da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) com o objetivo de pensar alternativas para alavancar a cadeia local.

À Folha, por telefone, Metsavaht falou sobre a importância de realizar um evento no Rio – a Osklen também desfila na São Paulo Fashion Week – , a necessidade de uma agenda de exportação do vestuário nacional e a polarização geográfica da moda nacional.

 

FOLHA – Após o fim do Fashion Rio, você foi um dos estilistas que defendeu a criação de uma nova programação de moda na cidade. O Rio Moda Rio é uma plataforma de lançamentos similar a que imaginou em sua passagem pelo conselho de estilistas da Firjan?

OSKAR METSAVAHT – É um formato diferente do que havíamos pensado. Não tínhamos a ideia de formar um pensamento ‘see now, buy now’ [a roupa apresentada em um dia será automaticamente levada às lojas, sem a habitual espera de seis meses], nem de colocar um espaço para venda de produtos de outras marcas como vai acontecer. Mas o evento atende à necessidade do Rio de Janeiro de voltar a ser um dos centros da moda do país. É importante alimentarmos toda a cadeia, da indústria de tecidos à marca.

 

Você foi ouvido pelos organizadores? Vê algum ajuste que deve ser feito no formato?

Algumas pessoas foram ouvidas, inclusive eu. Ainda há uma ajuste de calendário para fazer, porque essa edição não prioriza a venda no atacado, que já aconteceu. É bom para o varejo mas, para o atacado, não tem efeito. Foi uma agenda difícil de pensar porque temos de aproveitar esse momento que antecede a Olimpíada. Na próxima edição já deve haver esse ajuste. Precisamos de uma reestruturação que resgate nossas vocações e ajude a formar uma relação melhor entre nós.

 

Há muita discussão sobre o que é a moda carioca. O que significa esse termo?

Não existe moda carioca, paulistana, mineira. É um posicionamento ufanista pensar assim. Quem segmenta dessa forma, não entende de moda. Isso é uma ideia perpetuada pela mídia, que precisa falar de uma forma fácil para quem não é da área, e marcas sem posicionamento. Observo que essa polarização não ajuda em nada, é uma balela que se fala há 20 anos e, no fim das contas, não ajuda em nada o projeto de formar uma indústria de moda brasileira, do fio à marca. Há, sim, um conceito de estilo, algo que perpassa um jeito de ver a vida, mas que não deve definir uma grife. Precisamos pensar globalmente. O que existe, sim, é moda brasileira.

 

Não é ufanista, então, uma semana de moda para marcas cariocas?

É uma plataforma diferente. A São Paulo Fashion Week é a semana de moda brasileira, a maior de todas e a principal dentro do formato de apresentações que tem. A ideia, no Rio, é que não sejam só marcas cariocas. Do ponto de vista do “branding’, é crucial que se fale de moda na cidade, principalmente para um posicionamento internacional. Sabemos que os jornalistas e compradores estrangeiros preferem ir ao Rio para comprar e ver as coleções. É preciso aproveitar isso.

 

O que significaria a criação de uma outra semana de moda nos moldes da SPFW?

Enfraquecer uma moda já enfraquecida como está a nossa. Era necessário uma plataforma diferente, como essa, que complemente a São Paulo Fashion Week. Ao mesmo tempo, devemos pensar no Rio, porque a cidade tem condições de receber grandes eventos e a moda tem de estar nessa agenda como uma indústria fértil.

 

Ouvi que a Osklen negocia a realização de um desfile na Buenos Aires Fashion Week [principal semana de moda da Argentina]. É verdade? Nesse momento de crise no varejo brasileiro, as marcas precisam olhar mais para os países latinos?

Recebemos convites para desfilar em vários países, mas não existe nada confirmado para esse evento. As marcas brasileiras têm de pensar não apenas nos países da América Latina, mas principalmente da Europa e dos Estados Unidos. A agenda, hoje, num mercado interno enfraquecido, tem de contemplar as exportações. Temos uma boa recepção no hemisfério norte e também na Ásia, em específico no Japão. Estamos focando esforços nesses países.

[Minutos após a entrevista, Metsavaht embarcou para Nova York, nos EUA. Lá, ele receberia Linda Fargo, diretora de moda da multimarcas de luxo Bergdorf Goodman, para apresentar a nova linha “cruise” da marca e o projeto de bolsas e calçados em pele de peixes da Amazônia capitaneado por ele]