Gambiarra de luxo

Por Pedro Diniz

“A gente não é Pequim, é gambiarra.” O paralelo entre a magnitude da Olimpíada chinesa, em 2008, e um corte recente de 30% no orçamento destinado ao vestuário da cerimônia de abertura da Rio-2016, que ocorrerá nesta sexta-feira (5), foi a roupa que a equipe de figurino teve de vestir para tirar do papel as quase 5.000 peças da festa olímpica.

Mas não é porque as delegações internacionais vão trajar nomes imponentes da costura –a Itália aparecerá de Emporio Armani, e Cuba, veja só, de Christian Louboutin– que o Brasil passará por uma saia justa. Apuração da Folha constatou que a lista de designers com o dedo na agulha é uma “gambiarra” luxuosa.

A funkeira Anitta usará uma criação da estilista de moda praia Adriana Degreas, sucesso em areias europeias. Os cantores Caetano Veloso e Gilberto Gil vão de Osklen, símbolo do estilo de vida solar do Rio. Já a apresentadora Regina Casé trajará Alexandre Herchcovitch.

A chefe de figurino, Claudia Kopke, que carrega nas costas as araras dos filmes “Que Horas Ela Volta?” e “Tropa de Elite”, afirma que criou um universo “minimalista e modernista”.

A história brasileira será contada desde as origens indígenas. Moradores de Parintins, no Amazonas, usarão roupas de índio com colares de lantejoulas da designer carioca Mana Bernardes. No outro extremo, os colonizadores portugueses terão uma roupa navy, pintada à mão em azul e branco.

Quem também criou versões do próprio portfólio foram as estilistas Carô Gold e Pitty Taliani, da grife Amapô. O chapéu, que acompanha uma roupa de surfista confeccionada pela marca Mormaii, tem tucanos e é similar aos acessórios da coleção de verão 2015 das designers.

Esse conjunto será usado pela modelo Lea T., primeira transexual a integrar uma cerimônia olímpica, cujo papel será carregar a placa com o nome do Brasil e abrir espaço para a delegação nacional. Além da top, pelo menos outros dois transexuais desfilarão.

A roupa de outra modelo, esta, a maior do mundo, é um mistério. Gisele entrará no Maracanã com look Herchcovitch que se desdobra em dois, um para o momento de passarela e outro de arquibancada, como torcedora.

Três grupos de voluntários devem simular uma briga, usando máscaras e trajes de fiapos. Qualquer relação com o boneco Elmo, da série “Vila Sésamo”, será mera coincidência. A roupa é, na verdade, uma reverência aos “clóvis” do Rio, figuras da periferia carioca que remontam a 1930. No Carnaval, batiam no chão bexigas de boi. Na sexta, baterão bolas.

O branco é uma das cores principais da cerimônia e tinge o conjunto da funkeira Ludmilla, que terá pequenos lacres de latas de refrigerante colados no tecido. A criação é da marca inglesa Bottletop, do britânico Cameron Saul.

Uma das preocupações de Kopke (e do país) é que nada lembre o fiasco da abertura da Copa, em 2014, quando uma mal engendrada combinação de roupas de festa com de escola de samba produziu o grande vexame televisionado daquele ano. “Pensamos em soluções criativas e de baixo custo. Não faremos feio.”

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