Corpo e estilo brasileiros foram escondidos em manto colonizado

Por Pedro Diniz

Antes de achar graça no próximo meme que vir com o descamisado sorridente empunhando a bandeira do Tonga ou zombar do uniforme “estranho” da delegação dos Emirados Árabes, é preciso entender que, antes de um desfile esportivo, a cerimônia olímpica é uma celebração de costumes.

Cada nação construiu um figurino de acordo com seu modo de vida, e, numa leitura ampliada da festa, havia panos e cortes de alfaiataria demais sobre a pele dos atletas e voluntários brasileiros.

O vestido Herchcovitch de Gisele Bündchen era um belo exemplo de roupa para o tapete vermelho, mas não um traje para a garota das areias de Ipanema. Fenda e salto alto não fazem par com bossa nova.

Não fosse a mistura de sensualidade e elegância no look transparente de Anitta, assinado por Adriana Degreas, o corpo e o estilo brasileiros ficariam completamente escondidos no manto colonizado, típico da nossa costura, que permeou parte da apresentação.

Havia, porém, uma unidade imagética nas produções criadas pela figurinista Claudia Kopke e sua equipe. As roupas originais dos índios e a versão teatral dos colonizadores portugueses encheram o Maracanã de poesia, que logo virou música e brilho noturno no corpo da funkeira Karol Conka.

Não ficou claro o motivo, mas parece que houve uma mudança de última hora na cena dos voluntários montados em bicicletas. A roupa fora inicialmente confeccionada para vestir surfistas, mas serviu para ciclistas.

Os uniformes da estilista de moda praia Lenny Niemeyer, que vestiu os atletas brasileiros, bem poderiam vestir os de algum país da Europa, não fosse a estampa de folhagens típicas do Brasil. Mais brasileiros foram os looks Ralph Lauren da delegação americana, compostos até de bermuda.

No mesmo uniforme também havia uma condenável logomarca de jogador de polo, que identificava a grife. O mesmo problema tiveram as delegações brasileira, que ostentou o nome da varejista holandesa C&A, e a italiana, com um símbolo da marca Emporio Armani.

Quem melhor se saiu no desfile das delegações foram os canadenses, que misturaram no traje elementos de sua bandeira, da cor vermelha à folha de bordo impressa nas costas.

Os estilistas da grife DSquared2, Dean e Dan Caten, conseguiram mesclar técnicas da alfaiataria europeia a detalhes de moda casual, uma espécie de resumo da cultura de moda do país norte-americano.