Nunca se vendeu tanta “doleira” no Saara carioca. Antes mesmo do início da Olimpíada, os comerciantes do comércio popular do Rio tiveram de começar a repor o estoque da minipochete que, enrolada na cintura e colocada por dentro da cós da calça, guarda dinheiro.
No estande do “seu Miguel”, poucas horas antes da cerimônia de abertura, só restavam três modelos do carregamento de 50 peças que havia encomendado na semana anterior. Não fosse a Rio-2016, “talvez vendesse dez”.
Os americanos, ele diz, são os que mais se preocupam com os “pickpockets” (batedores de carteira). “Um grupo que levou dez doleiras de uma vez. O medo era tanto que tiraram a grana da sola do sapato”, ri.
Mas, se o visual do deputado Adib Elias (PMDB-GO), flagrado em 2008 com notas na meia, não agradar, ele tem a dica “fashion” da vez: “Coloca o dinheiro na cueca ou no sutiã. Sapato roubam fácil”.
Da estação Uruguaiana do metrô até o cruzamento da rua da Alfândega com a Conceição, a oferta do acessório minguou. Prostrado numa esquina, “seu Valdenir” promete encomendar nova leva de cores —preto e bege dominam— por até R$ 15. Na falta de doleiras, empurra pochetes. O acessório, espalhafatoso demais, encalhou.
Débora” (os comerciantes se identificam pelo primeiro nome) teve ideia melhor para lucrar com o medo do turista. Encomendou cartucheiras, acessório comum em “raves” e usado por policiais para guardar armas e munição. Tipo Lara Croft.
A procura pelo “look antifurto” pode ser justificada pelos números do Instituto de Segurança Pública. De janeiro a maio, foram registrados 48.429 roubos no Rio, ou 13 por hora. Não passou batido pela moda.
A marca suíça de relógios Swatch, por exemplo, lançou em julho um modelo que dispensa o uso de dinheiro ou cartão de crédito. O Bellamy guarda um chip recarregável, sensível a algumas maquinhas. É só encostar a caixa do relógio no terminal de pagamento e a compra acontece sem senha.
O diretor criativo da marca, o italiano Carlo Giordanetti, disse à coluna que a peça, com pulseira de borracha, é uma “solução ‘cool’” para o problema dos furtos. “Como turista, sei que isso [a violência] é um problema. Mas acho que ninguém vai te roubar o relógio, porque não é chamativo como uma joia. E, se acontecer, você pode entrar no site e cancelar o chip. O dinheiro estará seguro.”
Os R$ 725 gastos com o relógio, claro, não são devolvidos. Talvez a meia seja boa ideia.