Se houvesse um doping da roupa…

Por Pedro Diniz

…para começar, boa parte da tecnologia têxtil e de performance não existiria. Suaríamos mais, correríamos menos e, principalmente, forçaríamos os músculos até rompê-los. O motivo para isso é que o fator determinante para as grifes desembolsarem milhões em busca do produto perfeito (e do melhor close nos pódios olímpicos) é a conivência das federações esportivas com a alta tecnologia.

A americana Nike, a italiana Arena, a alemã Puma e a japonesa Asics dominam os estudos de performance, ainda que a americana Under Amour e a alemã Adidas tenham ganhado espaço ao patrocinar medalhistas como Michael Phelps e Tom Daley, respectivamente.

São da Nike alguns dos melhores aproveitamentos do atletismo. Um sistema denominado AeroSwift reduz o arrasto e maximiza o esforço do atleta por meio da roupa de náilon, que tem furos estratégicos na parte frontal da blusa e foi testada em tubos de ar.

Quenianos, brasileiros e o americano Justin Gatlin usaram a novidade. Gatlin, no entanto, foi vencido pela “tecnologia responsiva” das sapatilhas da Puma calçadas pelo jamaicano Usain Bolt.

É inegável que o tempo de 9s81 do atleta nos 100 m rasos foi resultado de esforço, mas especialistas defendem que, mesmo com papel secundário, a roupa faz diferença no desempenho final do atleta.

Para além de questões estéticas, os futebolistas perceberam a importância do look de campo. Neymar ganhou uma chuteira desenhada pela Nike. A tecnologia permite toque de bola mais eficiente e diminuição no peso da peça. É certo que, nos 90 minutos de jogo, qualquer ajuda é válida.

A eficácia dessas inovações foi comprovada na Olimpíada de Pequim, em 2008. Naquele ano, 87 recordes foram quebrados por causa de um maiô de poliuretano, cujo principal atrativo era dizimar o atrito com a água. Uma grande polêmica que se seguiu aos resultados excepcionais fez a Federação Internacional de Natação banir a roupa para os homens. A partir de 2009, eles só puderam competir de bermudas ou sungas.

Na Olimpíada de Londres, em 2012, a tese ganhou força com o fato de a maioria dos recordes na água ter sido quebrada por mulheres. E, claro, por seus maiôs.

A italiana Arena foi uma das prejudicadas com a ascensão do look de super-homem –os mais famosos eram da australiana Speedo. Para competir com a marca, a Arena apresentou uma evolução da tecnologia Carbon num desfile realizado neste mês, no Rio. Aplicadas nas peças de compressão, partículas de carbono ampliam os movimentos e não deixam o ar entrar.

O que separa esses atletas de ponta do aspirante olímpico, que muitas vezes não sobrevive do esporte, são os milhares de dólares gastos com equipamento e as horas de treino patrocinado. Se houvesse um doping da roupa, que limitasse o uso de tecnologia no vestuário, talvez o quadro de medalhas da Rio-2016 fosse um pouco diferente. Mesmo por alguns milésimos.