As artes visuais –o próprio nome define– dependem do olho humano para que a informação seja mastigada. Duas mostras em São Paulo, uma que terminou na quarta (31) e outra que vai até o dia 25 deste mês, propõem um olhar (ou melhor, um cheiro) menos figurativo da arte.
Instalada num salão do shopping Iguatemi, na zona sul, a Aromatique – Alquimia dos Sentidos é didática. Totens preenchidos com jardins suspensos exalam os cheiros de 20 perfumes importantes na história do mercado brasileiro desde a abertura das importações, em 1990.
As flores de cada estrutura integram as receitas de “best sellers” como J’Adore, da Christian Dior, Polo, da Ralph Lauren, Le Male, da Jean Paul Gaultier, CK One, clássico da Calvin Klein, e Malbec, único brasileiro da lista e criado pela marca OBoticário.
O diretor artístico Marcello Dantas ainda acrescentou um totem que exala lavanda, alecrim, verbena e limão siciliano, para comemorar os 50 anos do Iguatemi com o cheiro que identifica os corredores do centro de compras.
Ainda que galgada no espectro publicitário, a mostra oferece uma rara oportunidade dos espectadores entrarem em contato com o mundo invisível das fragrâncias.
Se museus pop como o nova-iorquino MAD (Museum of Arts and Design), que em 2012 organizou a exposição “A Arte do Aroma”, já reconhecem o potencial do assunto, os produtores culturais brasileiros ainda não sentiram o lastro dessa tendência.
Exemplo de como o assunto pode formar uma boa audiência foi a imersão nos universos da decoração e da perfumaria que a mostra Apartamento propiciou. Pensado pelo estilista Mario Queiroz, o projeto exibiu até o dia 31 de agosto, no Senac Lapa Faustolo (zona oeste), um emaranhado de referências aos estilos do homem brasileiro.
Segundo os organizadores, 6.000 pessoas passaram pelo lugar, número expressivo para uma exposição desse tipo.
A designer Noemi Saga e a doutora em semiótica Sylvia Demetresco criaram sete ambientes que contavam, por meio de móveis, roupas e cheiros, a personalidade de pessoas distintas. O espectador foi convidado a usar o nariz para identificá-lo e fazer um próprio raio-X sobre a aparência e o estilo de vida desses personagens.
Entre as personalidades, havia desde o esportista com cheiro de notas “fougère” até o “roqueiro baixo Agusta” e seu perfume de couro com metal, quase vintage.
Os perfumistas da empresa alemã Drom, especializada em criar fragrâncias para marcas de perfumaria e de moda, criaram os tons olfativos, e a Tok & Stok, os móveis usados nas instalações.
A mostra resgatou memórias olfativas arraigadas na mente de quem passou pelos ambientes. O perfume, borrifado em objetos dispostos pelos cenários, serviu como base para as interpretações de cada espectador.