A nova “ilusão perfeita” de Lady Gaga

Por Pedro Diniz

“Little Monsters” em polvorosa. O clipe da nova música da popstar Lady Gaga, “Perfect Illusion”, foi lançado na quarta-feira (21) para divulgar seu quinto álbum, “Joanne”. O disco leva o segundo nome de Stefani Joanne Angelina Germanotta, personagem impresso na certidão de nascimento da americana, e sairá no dia 21 de outubro.

As músicas são produzidas por vários amigos de Gaga, entre eles Mark Ronson, produtor dos discos de Amy Winehouse, e Nadir Khayat, autointitulado RedOne e escultor de “Bad Romance” e “Just Dance”, singles da mesma “Mother Monster”, como a cantora é conhecida entre os fãs.

Veja o clipe de “Perfect Illusion”:

“Monstrices”, porém, ficaram no passado. O clipe é dirigido pela fotógrafa de moda Ruth Rogben e soa como ponto de virada na carreira da mulher que, entra álbum sai álbum, remexe os padrões imagéticos da cultura pop –feito que só Madonna conseguia realizar desde que surgiu na turnê “Blond Ambition” (1990) com um sutiã cônico de Jean Paul Gaultier.

Neste novo trabalho, não faltaram comparações com as décadas marcadas pelos excessos na vestimenta e na agressividade melódica do rock. Soa ultrapassado? Não é o que acha metade dos estilistas e das marcas internacionais que, neste início de temporada internacional, reacenderam o glitter e espírito roqueiro na passarela para trazer o estilo “street” e glamoroso dos anos 1980 e 1990 de volta à ribalta. O rock está na moda.

Há 25 anos era lançada “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana. O punk, grande referência das últimas coleções de grifes de luxo, fará 40 anos em 2017. “Guns’n Roses está de volta (perceberam o shortinho do tipo Axl Rose que ela usa?). Nada é por acaso quando se trata da cantora mais alinhada ao marketing da indústria do entretenimento.

Gaga dá verniz roqueiro à estética pop e faz uma homenagem aos Estados Unidos.

Sem descambar na óbvia bandeira americana estampada na roupa, a cantora equaciona pedaços do seu país natal neste clipe. O deserto californiano, o estilo Coachella revisitado e a enxurrada de marcas americanas –desta vez, só dá elas–, modelam a ilusão de que a cantora fala.

O estilista Brandon Maxwell, um dos protegidos da primeira-dama americana Michelle Obama, é quem constrói a nova imagem da cantora. A blusa “podrinha” é American Apparel, os shorts jeans são Levi’s, as botas são Rag And Bone, os óculos são Persol. Ou seja, não são só o clipe e a canção os elementos palatáveis dessa nova fase.

Diferentemente do seu armário de antigamente, o figurino de hoje pode ser usado e comprado por qualquer um. Nem de longe a cantora lembra a modelo não-oficial do estilista Alexander McQueen (1969-2010) que chocou a indústria nos tempos de “The Fame Monster” (2009), álbum mais rentável de sua carreira.

Movida por um radar apontado para o futuro mas com a memória de um passado recente, a estética “Joanne” de Lady Gaga provavelmente não chegará a ter o impacto da “Lemonade” de Beyoncé, mas entregará o que sua criadora faz melhor: “ilusões” bem engendradas, quase perfeitas.