Grifes tradicionais resgatam relevância da semana de moda de Milão

Por Pedro Diniz

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Por mais tradicional e relevante para a história que seja a costura de um país, ela não pode parar no tempo. De dois anos para cá a indústria italiana saiu do marasmo criativo que a engessou numa elegância antiquada e, nesta semana de moda se Milão, se confirmou como o evento de desfiles mais inovador do circuito internacional.

Enquanto a moda parisiense patina para redirecionar o estilo de suas grifes, algumas delas em vias de trocar de comando, a italiana consolida nesta temporada de verão 2017 nomes emergentes como Alessandro Michele, estilista da Gucci, e Massimo Giorgetti, da Emilio Pucci.

Miuccia Prada e Giorgio Armani, donos das grifes que levam seus sobrenomes, seguem na elite da moda ocidental.

O tema desta temporada europeia, iniciada em Londres na última sexta-feira (16) e que segue para Paris a partir de terça-feira (27), é a guerra. Ou melhor, os efeitos dela sobre as pessoas e como elas respondem aos conflitos.

Sentimentos e “cores emocionais”, como rosa, vermelho, amarelo e verde, sempre em tons acesos, permearam as coleções.

Um tipo de cartela que caiu como uma luva na Pucci, reconhecida pelas estampadas vibrantes e coloridas. Giorgetti, no entanto, amplificou as linhas dos padrões criados por Emilio Pucci e transformou casacos enormes e vestidos, todos de jérsei, em esculturas sinuosas.

A praia e os balneários de luxo inspiraram roupas leves e todo o clima solar da coleção.

Na Gucci, Michele continuou seu trabalho de misturar décadas e referências da cultura jovem. Colou a palavra amor numa das jaquetas da coleção, que também tinha vários elementos da cultura asiática mescladas aos babados da indumentária do século 18.

Proporções “oversized” (amplas) e peças “street” completam o deleite visual da melhor coleção do estilista na grife. Mais urbano que em coleções passadas, o vintage proposto por ele é algo setentista e oitentista –períodos em que o mundo, recuperado das guerras, vestiu flores, muitas cores e partiu para excessos no guarda-roupa.

Prada, uma das estilistas mais conectadas a seu tempo, deu viés feminino à rigidez da roupa militar. Tons de folhas secas e cinzas, que identificam o estilo, receberam pinceladas de estampas xadrez, flores e linhas coloridas nas extremidades da roupa.

É, basicamente, uma bem engendrada combinação da roupa feminina dos anos 1940 e 1950, só que misturada ao tempero doce dos 1970. Uma das coleções mais femininas e comerciais de Miuccia Prada nesta década.

O cinza-concreto e o azul profundo do oceano definem o jogo de opostos criado por Armani. O estilista italiano, que proporciona uma das modas mais elegantes desta semana de desfiles, imprimiu flores em peças transparentes, como se dissesse que há vida em meio ao concreto.