Semana de moda de Paris começa com militarismo festivo e viés político

Por Pedro Diniz

A festa militar proposta pela coleção do britânico John Galliano na passarela da grife Maison Margiela, que desfilou nesta quinta-feira (3), no terceiro dia da temporada de inverno 2017 da semana de moda de Paris, traduz o espírito dessa edição do evento.

A equação de clima disco, com muito lurex e tecidos metalizados, somado à austeridade do uniforme de guerra conduzem a coleção de extremos da marca.

Modelo desfila look de outono-inverno 2017 da Maison Margiela, em Paris. Crédito: Reprodução Instagram @maisonmargiela
Modelo desfila look de outono-inverno 2017 da Maison Margiela, em Paris. Crédito: Reprodução Instagram @maisonmargiela

Insígnias estampadas nos casacos e peças em tons de folhas secas, comuns ao look camuflado, se misturam às saias fendadas envoltas com displicência na cintura e às estampas de cartoon. Realidade versus ficção, Galliano lembra, é um dos nortes desta temporada.

Os designers exploram as interseções entre o decorativismo e a rigidez da alfaiataria em looks ora monocromáticos, ora rasgados de cor.

As características das silhuetas dos anos 1930 e 1940, do pré ao pós-guerra, ilustram a maioria das proporções desfiladas. O belga Dries Van Noten, herdeiro da coroa autoral da semana de Paris, foi contaminado pelo clima sombrio que cerca a cidade desde os atentados de 13 de novembro, quando terroristas em ataque coordenado mataram 129 pessoas em bares e na casa de show Bataclan.

A extravagância de tempos atrás foi mesclada ao look “decadência com elegância”, com maquiagem borrada e várias peças “animal print”. Os looks coloridos e com estampas “op art” que conduziram as últimas coleções de Noten deram lugar a terninhos e gravatas estruturados.

Look da coleção de inverno 2017 de Dries Van Noten, apresentado na semana de moda de Paris. Crédito: Reprodução Instagram/@driesvannoten
Look da coleção de inverno 2017 de Dries Van Noten, apresentado na semana de moda de Paris. Crédito: Reprodução Instagram/@driesvannoten

Os respiros de moda urbana e jovem são da grife Vêtements, que fechou o dia de desfiles nesta quinta-feira com uma coleção que flerta com os gritos de ordem das ruas. “Talvez as pontes que queimei iluminem o caminho”, diz um escrito aplicado num moletom com ombreiras.

Paz é o que pede o coletivo de estilistas da Vêtements, marca liderada pelo alemão Deman Gvasalia, indicado como novo estilista da tradicional grife Balenciaga. A grife mais incensada da ala “cool” do calendário parisiense aliou peças esportivas com a estrutura da alfaiataria.

Num dos looks mais polêmicos da coleção, a marca cobriu uma modelo com um vestido de moletom, similar a um chador muçulmano, com escrito “fantasias sexuais” estampado na perna.

Álbum de Paris

O designer de chapéus Reinhard Plank. Crédito: Paulo Troya e Reno Teles/Folhapress
O designer de chapéus Reinhard Plank. Crédito: Paulo Troya e Reno Teles/Folhapress

Em oposição às mensagens de ordem e ao viés político camuflado nas apresentações, Paris tenta estimular os sentidos dos fashionistas com festinhas e vernissages regadas a chamapanhe. Logo no segundo dia da temporada, a Galerie Joyce, no Palais Royal, abrigou uma performance do artesão de chapéus Reinhard Plank.

Chapéus do designer italiano Reinhard Plank em exibição na Galerie Joyce, durante a semana de moda de Paris. Crédito: Paulo Troya e Reno Teles/Folhapress
Chapéus do designer italiano Reinhard Plank em exibição na Galerie Joyce, durante a semana de moda de Paris. Crédito: Paulo Troya e Reno Teles/Folhapress

As peças, produzidas ao vivo pelo designer italiano, são confeccionadas à mão e em formas tradicionais, mas coloridas com tons vivos e remodeladas em linhas assimétricas. Os modernos misturam as peças do estilista às combinações de roupas “street”, padrão que é quase uniforme da juventude parisiense.

Performance do italiano Reinhard Plank no segundo dia da semana de moda de Paris. Crédito: Paulo Troya e Reno Teles/Folhapress
Performance do italiano Reinhard Plank no segundo dia da semana de moda de Paris. Crédito: Paulo Troya e Reno Teles/Folhapress

Na mesma quarta-feira (2), a tradicional loja multimarcas “Le Bon Marché” abriu as portas de sua nova exposição. Em cartaz até abril, “Iris in Paris” expõe dez looks da fashionista mais prestigiada de Nova York, a designer de interiores Iris Apfel, 94.

Vitrine da mostra "Iris in Paris", em cartaz até abril no Le Bon Marché, em Paris. Crédito: Paulo Troya e Reno Teles/Folhapress
Vitrine da mostra “Iris in Paris”, em cartaz até abril no Le Bon Marché, em Paris. Crédito: Paulo Troya e Reno Teles/Folhapress

Mesmo com os movimentos e a acuidade visual prejudicada pela idade, o que lhe rendeu uma de suas marcas registradas, o grande óculos grosso de armação preta, Apfel recebeu com presunto de parma e garrafas de uísque os convidados da festa.

Vitrine da mostra "Iris in Paris", em cartaz até abril no Le Bon Marché, em Paris. Crédito: Paulo Troya e Reno Teles/Folhapress
Vitrine da mostra “Iris in Paris”, em cartaz até abril no Le Bon Marché, em Paris. Crédito: Paulo Troya e Reno Teles/Folhapress

Nas vitrines da mostra, parte do acervo colorido e maximalista da nova-iorquina foi montado em combinações criadas por ela mesma para encarar dias de frio em Paris.

Convidados da mostra "Iris in Paris", em cartaz até abril no Le Bon Marché, em Paris. Crédito: Paulo Troya e Reno Teles/Folhapress
Convidados da mostra “Iris in Paris”, em cartaz até abril no Le Bon Marché, em Paris. Crédito: Paulo Troya e Reno Teles/Folhapress

*** A Folha começa hoje a cobertura do outono-inverno 2017 da semana de moda de Paris. Acompanhe o que acontece na temporada parisiense no site da “Ilustrada” (folha.com/ilustrada), no blog “Peça Única” (folha.com/pecaunica) e a conta do Instagram @ilustradanamoda. As imagens são da dupla de fotógrafos Paulo Troya e Reno Teles, que está em Paris com a reportagem para acompanhar a movimentação em torno da temporada. ***